O evento é fruto do projeto “Ancestralidade e Resistência”, idealizado pela Escola de Capoeira Quilombo Eliseu Luz e organizado pelo contramestre Chocolate (Foto: Paulo Ricardo/O Login)
Bruno Pacheco – Portal O Login da Notícia
Uma roda que une passado, presente e futuro. A ginga que carrega ancestralidade, resistência e alegria. Foi com esse espírito que a Escola Estadual Senador João Bosco Ramos de Lima, em Itacoatiara (AM), viveu momentos inesquecíveis durante o 1º Festival de Capoeira – Ancestralidade e Resistência.
Ao longo de um dia inteiro, durante os turnos da manhã e da tarde, mestres, contramestres, músicos e estudantes celebraram a capoeira como uma expressão viva da cultura afro-brasileira. O som do berimbau ecoou pelos corredores, acompanhando oficinas, palestras e rodas vibrantes que emocionaram participantes de todas as idades.
O evento é fruto do projeto “Ancestralidade e Resistência”, idealizado pela Escola de Capoeira Quilombo Eliseu Luz e organizado pelo contramestre Chocolate, com apoio da professora e mestre Rosilene Cassiano. A ação foi contemplada pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), e transformou a escola em um centro pulsante de cultura e identidade.
“A culminância de hoje é o resultado de um trabalho que começou ainda em dezembro. A Escola João Bosco se tornou modelo para aplicarmos esse projeto que trabalha ancestralidade e resistência com os alunos”, explicou o contramestre Chocolate.
Professora de História e coorganizadora da iniciativa, Rosilene destacou a força da parceria:
“Começamos em sala de aula e depois levamos para os espaços livres. Os alunos abraçaram o projeto. O mais bonito é que isso não termina aqui. Queremos levar a capoeira para outras escolas.”
Para a gestora da escola, Carla Rodrigues, o festival é mais do que uma ação cultural:
“A capoeira permite trabalhar temas como discriminação racial, inclusão e cidadania. Trazemos a conscientização não só por meio de palestras, mas através da prática social.”
No pátio da escola, crianças se divertiam ao simular movimentos da luta-dança, mestres orientavam com firmeza e afeto, e os tambores do berimbau conduziam uma verdadeira celebração da ancestralidade.
“Eu não sabia o conceito da capoeira. Com os mestres, entendi mais sobre a cultura”, contou a estudante Emanuelly Sophia, de 13 anos.
“Estou gostando muito. A capoeira incentiva os alunos a praticarem um esporte que eu amo”, disse o colega Andrey Nelberth, também de 13 anos.
A pedagoga Elisabeth Barros ressaltou os benefícios pedagógicos:
“A capoeira ajuda na concentração, disciplina e trabalha corpo e mente. Isso flui no processo de aprendizagem.”
Mestre Chaguinha, um dos pioneiros da capoeira no Amazonas, destacou a importância do evento num ano especial:
“Nossa escola completa 50 anos e continua promovendo a arte da capoeira. É uma alegria ver isso acontecer aqui.”
Outros nomes importantes da capoeira e da cultura local marcaram presença, como o instrutor William Luz (Esticado), que enfatizou a dimensão interdisciplinar da prática:
“A capoeira não se limita à prática física. Ela exige raciocínio, conhecimento histórico e cultural.”
Também esteve presente o mestre Louva-a-Deus, integrante da banda Raízes Caboclas e professor da rede estadual, que ressaltou o valor educativo do festival:
“É uma alegria participar. Também sou professor da escola Mayara Raddi e da matriz da Educação Especial no Amazonas. Contribuir com esse evento é, antes de tudo, colaborar com um movimento educativo e cultural.”
O festival também abriu espaço para inclusão e interculturalidade. O colombiano Christian Molina, o Besouro, reforçou o convite aos jovens:
“A capoeira é uma ponte entre culturas. Convido todos a se unirem a esse projeto maravilhoso.”
E Nayra Rodrigues, intérprete de Libras, celebrou a abertura para a comunidade surda:
“A introdução da Libras na capoeira pode incluir alunos que ainda estão à margem. É um passo importante.”
A secretária adjunta da CREI, professora Guiomaci Aquino, definiu o festival como um marco:
“Capoeira é cultura, esporte e resistência. E deve estar presente nas escolas. O projeto plantou sementes de orgulho e pertencimento.”
Como destacou o contramestre Canelão:
“Nosso objetivo é inserir a capoeira de forma efetiva no ambiente escolar, mostrando que ela ensina história, musicalidade, movimento e cidadania.”
Para o professor, mestre e escritor Éder Gama, a capoeira reforça o pertencimento negro na cultura de Itacoatiara:
“Ela revela a face negra da cultura local. É uma dança, uma luta e um símbolo de resistência.”
O brilho nos olhos dos estudantes ao final do evento não deixava dúvidas: onde houver vontade de aprender, a capoeira estará pronta para ensinar. E se engana quem pensa que há idade certa para começar.
Confira a videoreportagem completa: