Indiciamento de Xavier reafirma veracidade denúncias da Univaja, diz líder indígena do Vale do Javari (AM)

Bruno Pacheco – Da Redação O Login da Notícia

ITACOATIARA (AM) – O indiciamento por omissão do ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, nessa sexta-feira, 19, reafirmou a veracidade das denúncias da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), afirmou o advogado Eliésio Vargas, da etnia Marubo. Em nota, o líder indígena relatou que recebeu a notícia sobre o ex-dirigente com choro preso na garganta.

“Com choro preso na garganta que recebemos a notícia, por meio da imprensa, que a PF indiciou o ex presidente da Funai e seu substituto por omissão na proteção de Bruno e Dom, além de serem omissos com as vidas dos servidores públicos ligados à Funai. Bruno foi perseguido pela administração passada e isso se torna cada vez mais cristalino com o indiciamento do dia de hoje”, diz trecho da publicação.

Na nota, publicada na noite dessa sexta-feira, 19, Eliésio descreve que o choro está preso na garganta, “pois nada foi feito” para garantir a segurança da região do Vale do Jaravi, a Oeste do Estado do Amazonas. Para a liderança indígena, a omissão culminou no assassinato do jornalista britânico Dominic Mark Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira.

“E isso nos dói o coração, já que perdemos pessoas importantes da forma mais covarde possível, fruto da ausência estatal que corrobora com o fortalecimento do crime organizado. A situação de vulnerabilidades de Bruno foi robustecida pelo relatos dos demais servidores de Funai em Atalaia do Norte, ao substituto de Xavier, também indiciado, em reunião presencial com servidores da Funai no Javari”, continua Marubo.

Na reunião, enfatiza Eliésio Marubo, servidores relataram a situação de ameaça generalizada à função estatal na região. “Deram como exemplo o assassinato de nosso igualmente amigo Maxciel Pereira. Da mesma forma que Bruno, Max morreu nas mãos do mundo criminoso. O indiciamento de Xavier põe mais verdade em nossas comunicações às autoridades, que nada fizeram para proteger vidas”, reforça.

Ameaças continuam

Ainda de acordo com Eliésio Marubo, apesar de um novo momento político no País, o Vale do Jari continua com pessoas ameaçadas pela criminalidade, em meio a falta de medidas efetivas para combater a insegurança na região.

“Todo esse conjunto põe luz também aos fatos atuais, pois embora em novo momento político, continuamos com 11 pessoas ameaçadas sem que haja ao menos um plano de enfrentamento real dos problemas que afligem o Vale do Javari. Além de não haver qualquer medida efetiva para a região”, frisa.

Ao final, o líder indígena da Univaja afirma estar vivenciando falta de visibilidade e ações efetivas para a região, mas que, apesar disso, vai continuar denunciando e esperando por justiça e compromisso com os povos tradicionais.

“No intuito de colaborar com o novo momento político, até nos disponibilizamos auxiliar o Estado no plano de enfrentamento das mazelas sociais no Javari, sem ter qualquer esboço ou reação efetiva.
Infelizmente, ainda estamos vivenciando um estado de cegueira deliberada estatal, em que as autoridades até nos ouvem, mas nada fazem”, lamenta.

Entenda

O ex-presidente da Funai, Marcelo Xavier, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por omissão no assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira. Segundo a corporação, Xavier não tomou as as providências necessárias para garantir a segurança na região amazônica, que resultou no fatídico crime.

Dom e Bruno foram mortos em 5 de junho do ano passado, após serem pegos uma emboscada no Amazonas, no Vale do Javari, considerada a segunda maior terra indígena do Brasil. Segundo informações do g1, no entendimento da PF, Xavier recebeu várias notificações sobre perigos na região, principalmente, após a morte do servidor Maxciel dos Santos, mas não tomou providência.

Além de Xavier, que assumiu o cargo de presidente da Funai em 2019 e foi exonerado em dezembro do ano passado, a PF também indiciou o ex-coordenador-geral de Monitoramento Territorial da fundação, Alcir Amaral Teixeira, responsável pela segurança dos territórios indígenas e que era substituto eventual de Xavier no comando da entidade indígena.

O assassinato

Dom Phillips, que era correspondente do jornal britânico The Guardian, e o indigenista Bruno Pereira, que era servidor de carreira da Funai, foram executados enquanto trabalhavam em um projeto conjunto para denunciar crimes socioambientais na região do Vale do Javari, onde há maior concentração de povos isolados e de contato recente do mundo.

Na época, o jornalista e o indigenista desaparecerem durante uma expedição na região. Os dois foram vistos pela última vez quando passavam em uma embarcação da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte (a 1.136 quilômetros de Manaus).

Somente em 15 de junho, os restos mortais de Dom e Bruno foram encontrados. As vítimas foram mortas a tiros e tiveram os corpos esquartejados, queimados e enterrados em uma cova rasa. Segundo um laudo da Polícia Federal (PF), Bruno foi atingido por três disparos, sendo dois no tórax e um na cabeça, e Dom foi baleado uma vez no tórax.

Os irmãos Amarildo e Oseney da Costa de Oliveira, conhecidos como “Pelado” e “Dos santos”, respectivamente, e Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, foram presos suspeitos de cometerem os assassinatos. Além dos três acusados, a PF também apontou, em janeiro deste ano, Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, como o mandante dos homicídios.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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